Este Blog foi criado com o intuito de proporcionar aos profissionais da Educação Física, assim como a comunidade virtual, um ambiente de comunicação para ideias, debates e opiniões, bem como um espaço pautado na construção do conhecimento e dos temas emergentes da Educação Física.
domingo, 7 de setembro de 2014
LIMITAÇÕES DE UMA EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA?
Não estariam os
professores fortemente enforcados pelas atuais condições educacionais, de forma
exaustiva, interlocuções atrás de interlocuções, sem tempo adequado para
planejá-las? Como planejar interlocuções (aulas) de qualidade para atender alunos com
experiências de vidas diferentes, principalmente aqueles com deficiência? Será
que a proposta de educação atual ainda é
limitada e não oferece condições satisfatórias para ser considerada
inclusiva? Ou são os professores que estão limitados, perante suas
práticas? Esses são alguns questionamentos levantados na atualidade para a Educação em geral, bem como para a Educação Física.
Sabe-se que umas das maiores dificuldades
da Educação no Brasil é a existência de professores desmotivados. A questão
salarial e as condições de trabalho são umas das principais causas da falta de
motivação profissional. Os professores possuem várias tarefas, trabalham muitas
vezes com turmas heterogenias e cheias, onde o resultado financeiro não
retribui a este empenho. Com isso, começam a descobrir que a profissão
escolhida não lhes traz satisfação pessoal e profissional.
Quanto aos professores de
Educação Física, todos tem o dever de planejar e ofertar atividades pedagógicas
adequadas para garantir a participação e o desenvolvimento dos alunos com
deficiência. Nesse processo de inclusão a Educação Física vem buscando contribuir
para o entendimento e compreender as deficiências, apresentando maneiras de
adaptar as atividades propostas de acordo com as especificidades dos alunos,
garantindo assim a prática da atividade física com segurança e a efetiva
participação de todos os aluno dentro do contexto escolar.
No entanto, apesar dos
avanços da Educação Física, frente ao movimento da inclusão escolar, ainda se
depara com alguns desafios a serem enfrentados. Por exemplo, embora muitos
alunos com deficiência consigam ter acesso à escola regular, em alguns casos
eles são dispensados das aulas de Educação Física. Entre as justificativas
apresentadas se destacam o despreparo dos professores, condições inadequadas
dos espaços físicos, falta de materiais, insegurança dos familiares e/ou
professores, entre outros. Ao dispensar o aluno com deficiência das
interlocuções, o professor de Educação Física nega o direito do mesmo de
participar plenamente de todas as atividades desenvolvidas pela escola,
desrespeitando suas possibilidades, características, limites e necessidades
(GARGATTI; ROSE JR, 2009).
Gargatti e Rose Jr (2009)
ao avaliarem as percepções de professores de Educação Física diante da inclusão
de alunos com deficiência, observaram que a percepção geral foi negativa para
com a inclusão. No entanto, sabe-se que a maior parte dos professores nunca
recebeu nenhum tipo de apoio profissional, em relação à área da inclusão, e isso
somado com os espaços inadequados, materiais insuficientes e preconceito por
parte dos alunos e demais profissionais da escola colaboram como obstáculos
para a inclusão escolar.
Para Gargatti e Rose Jr
(2009) alguns professores não se sentem preparados para lidar com alunos que
apresentam deficiências, devido à falta de recursos materiais apropriados e na falta
de apoio multidisciplinar. Gargatti e Rose Jr (2009) trazem também que os professores
com menor tempo de experiência mostram visões mais positivas, no que se refere
aos benefícios de todos os alunos com a inclusão escolar.
Aguiar e Duarte (2005)
afirmam que não basta o professor ter domínio teórico do assunto, é também
necessário ter experiências na prática pedagógica com educação inclusiva em
ambiente escolar, como materiais e apoio, cursos de capacitação e reciclagem. No
entanto, dentro da Educação Física, muitos professores com anos de
experiências práticas proporcionam grandes limitações, nas quais não
possibilitam uma Educação Inclusiva, pois é nítida nas interlocuções, somente a
promoção da vivência do conteúdo Esporte, que para muitos deles são simplesmente
o futebol para meninos e o voleibol para meninas, e em alguns casos visando
apenas encontrar talentos para jogos escolares de seus municípios.
Quando
um aluno vivencia uma interlocução de Educação Física, supõe-se que o professor
não vê nele um futuro atleta, mas um futuro cidadão, que até pode vir a ser um
atleta e podendo escolher de forma autônoma a melhor maneira de conduzir sua
vida individual e social. Sendo assim, a escola é um ambiente educacional, que
tem por objetivo maior formar cidadãos, nos quais podem até virar atletas um
dia, graças a uma vida digna, com acesso a uma boa moradia, educação, saúde e
alimentação.
Muitas
pessoas não percebem a importância e o significado que tem a disciplina
Educação Física, pois são leigos no assunto, porém um profissional habilitado
na área tem o dever de saber que todos os alunos, com deficiência ou não, estão
nas escolas para aprenderem aquilo que é necessário para viver melhor, e não
valorizar apenas os mais aptos para tal esporte.
REFERÊNCIAS
domingo, 3 de agosto de 2014
JOGOS PARALÍMPICOS
A história do desporto
para as pessoas com deficiências começou na cidade de Aylesbury, Inglaterra. A
pedido do governo britânico, o neurologista Ludwig Guttmann criou o Centro
Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville, destinado a tratar
homens e mulheres do exército inglês feridos na Segunda Guerra Mundial.
O trabalho de
reabilitação buscou no esporte não só o valor terapêutico, mas o poder de
suscitar novas possibilidades, o que resultou em maior interação dessas
pessoas. Através do esporte “reabilitação” estava devolvendo à comunidade um
deficiente, capaz de ser “eficiente” pelo menos no esporte. Outra corrente,
vinda dos Estados Unidos, utiliza o enfoque esportivo como forma de inserção social,
dando a conotação competitiva utilizada pelo desporto.
Essas correntes, no
decorrer da história, cruzam-se formando objetivos comuns. Saindo do componente
médico-terapêutico, estendem se à incorporação da prática esportiva e do
desporto de rendimento, procurando integração do atleta e sua reabilitação
social. Embora já se promovessem atividades esportivas para pessoas com
deficiência, principalmente na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha.
Os Jogos Paralímpicos compreendem uma
competição internacional de estrutura e objetivo idênticos aos das Olimpíadas,
destinada a atletas com deficiências. Os Jogos
Paralímpicos aconteceram oficialmente em 1960 em Roma, sendo instituída pela
Organização Internacional de Esportes a realização dos Jogos Paraolímpicos após
a realização das Olimpíadas (Alencar, 1986). Das modalidades esportivas praticadas oficialmente por pessoas com
deficiência podemos citar: Arco e
flecha, Atletismo, Basquetebol sobre rodas, Bocha, Ciclismo, Equitação,
Esgrima, Futebol, Halterofilismo, Iatismo, Lawn Bowls,
Natação, Racquetball, Rugby em cadeira de rodas, Tênis de campo, Tênis de mesa,
Tiro ao alvo e Voleibol.
A participação de pessoas
com deficiências em eventos competitivos no Brasil e no mundo vem sendo
ampliada. Por ser um elemento ímpar no processo de reabilitação, as atividades
físicas e esportivas, competitivas ou não devem ser orientadas e estimuladas,
visando assim possibilitar aos deficientes, mesmo durante seu programa de
reabilitação alcanças os benefícios que estas atividades podem oferecer,
visando uma melhor qualidade de vida.
Souza (1994) enfatiza que
foi após a Segunda Guerra Mundial que a prática desportiva teve maior
incremento no contexto da prevenção e reabilitação. A partir daí, o esporte
para pessoas com deficiências físicas não parou de crescer e, desde 1960,
quando foram realizados os primeiros Jogos Paraolímpicos (paralelo aos Jogos
Olímpicos), aonde veio e vem se tornando cada vez mais popular. Porém, Brandão
(2003, p.7) coloca que “há deficiências que inibem a prática do desporto, ou
este pode até piorar a condição física do praticante. Mas a atividade física
vale-se do esporte como fator motivacional, tornando se atividade física
desportiva”.
A introdução das vivências dos Jogos
Paralímpicos e Adaptados, como processo metodológico, traz a possibilidade de
uma reflexão crítica sobre a realidade das pessoas com deficiências na
sociedade, por meio ao estímulo à Consciência Corporal dos alunos com
deficiência ou não. A escolha e vivência do tema Jogos Paralímpicos e Adaptados
nas interlocuções (aulas) de Educação Física possibilita aliar a teoria à
prática escolar de várias modalidades esportivas, oportunizando aos alunos
refletirem sobre as pessoas com deficiência na sociedade, onde se faz presente
à valorização do imaginário social e a questão do sentido da superação de
limites, através do esporte.
Com o Esporte Adaptado também se vê a
necessidade de despertar o olhar dos alunos para diferentes aprendizados e novas
experiências corporais conscientes e necessárias para a vida social, bem como
refletir a questão do preconceito com as pessoas que possuem deficiências no
esporte. Em relação à busca de experiências autônomas (CORREIA, 1996) diz que:
“Os adolescentes passam a ter possíveis
entendimentos sobre a realidade, ou seja, o conhecimento, fazendo com que o
aluno tenha uma experiência autônoma, que o faça exercitar uma reflexão crítica
e de decisão própria no processo educativo, adquirindo condições para viver uma
educação pela e para a cidadania”. (p. 43)
Nas ações pedagógicas por meio das
práticas, apostar em uma Educação Física diferenciada da tradicional, que vise
estimular, além das questões críticas dos alunos, o aprendizado não somente do
movimento ou gesto esportivo, mas também dos aspectos sociais e cognitivos.
Como proposta para a
motivação dos alunos e estratégia metodológica, a realização de um Evento
Paralímpico dentro da comunidade escolar, envolvendo todos os alunos,
professores e suas determinadas disciplinas. Considera-se positivo e
estimulante a vivência das modalidades Paralímpicas, bem como um trabalho
interdisciplinar, podendo proporcionar aos alunos um entendimento mais amplo
perante a temática.
Como planejamento fazer com que os
alunos, se coloquem no lugar de pessoas com deficiências, onde irão vivenciar a
Competição dos Jogos Paralímpicos, interagindo de forma que eles consigam ter a
consciência corporal de alteridade e de que todos nós somos diferentes. Para Freitas (1999), o corpo vivido é ao mesmo tempo
sentimento, movimento e pensamento. Com base na fala do autor se dá importância
para uma pessoa deficiente e seu se movimentar na sociedade e na escola,
compreendendo suas necessidades práticas.
Os
alunos poderão conhecer além da prática e regras das modalidades, a parte
histórica das Paralimpíadas, seus símbolos, possibilitando a construção de
materiais ligados ao tema e as modalidades, facilitando o aprendizado e
ampliando o conhecimento, não somente através da prática pela prática, mas sim
por outros mecanismos de aprendizagens.
Apesar de utilizar o Esporte Adaptado
propriamente dito, como ferramenta de ensino, a Educação Física trás consigo,
através da reflexão crítica, aspectos sociais como interação, respeito e
companheirismo que muitas vezes é frequente nas interlocuções desta disciplina.
Para Kunz,1994:
"O aluno enquanto sujeito do processo de
ensino deve ser capacitado para sua vida social, cultural e esportiva, o que
significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a
capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados
nesta vida através da reflexão crítica". (p. 31).
Como avaliação do Evento Paralímpico,
o professor poderá analisar se existiu ou não interesse dos alunos pelos Jogos,
bem como identificar as limitações e dificuldades, assim como as facilidades e
as experiências apresentadas pelos alunos no decorrer de cada interlocução,
dando aos alunos a oportunidade de relatar opiniões, ideias e exemplos.
A discussão sobre a Competição, o
Esporte Adaptado, a Inclusão e o Corpo ainda necessitam de maiores espaços. Os
alunos precisam ter esta oportunidade, cabe aos professores, efetivamente
acreditar nisto, oferecendo um novo espaço na escola para esta forma de pensar
e agir com o corpo, relacionando as práticas com a realidade em que vivem as
pessoas com deficiências na sociedade. Para KUNZ, 1994:
O profissional de Educação Física deve
auxiliar o aluno a melhor organizar e praticar o seu esporte, ou seja,
encená-lo de forma que dele possa participar com autonomia, mas é acima de tudo
uma reflexão crítica sobre todas as formas de encenação esportiva. (p. 73).
Diante
disto, os Jogos Paralímpicos, podem contribuir para que os alunos se coloquem
diante de papéis diferentes de seu contexto social, permitindo que reflitam
sobre as dificuldades das pessoas com deficiências na sociedade e suas
vivências corporais tanto no esporte quanto na realidade do dia-dia. Segundo
Kunz (2010) além das analises críticas que o esporte pode oferecer novas
temáticas também devem ser criadas, oportunizando os esportes de diferentes
formas.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, I. Educação Física e Portadores de Deficiências. Revista do Conselho Federal de Educação Física, Rio de Janeiro, ano II, n°. 8 p.8-12, Agosto, 2003.
CORREIA, W. R. – “Planejamento participativo e o ensino de Educação Física no 2º grau”. Revista Paulista de Educação Física, suplemento 2, 1996, p. 43-48.
FREITAS, G. G. O esquema corporal, a imagem
corporal, a consciência corporal e a corporeidade. Ijuí, RS:
Editora UNIJUÍ, 1999.
KUNZ, Elenor. Transformação Didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
KUNZ,
Elenor. Transformação didático-
pedagógico do esporte. Ijuí: Unujuí, 2010.
SOUZA, P.
A. O Esporte na Paraplegia e Tetraplegia.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1994.
terça-feira, 29 de julho de 2014
PEDAGOGIA CRÍTICO EMANCIPATÓRIA
A Educação Física, juntamente com seus
conteúdos, busca fazer com que os alunos reflitam de forma crítica sobre suas vivências
corporais. Devemos pressupor que a
educação é sempre um processo onde se desenvolvem ações comunicativas. Dentro
da concepção pedagogia Crítico-Emancipátoria, segundo Kunz (2010), a atuação do
professor de educação física deve-se preocupar para uma ação solidária e
cooperativa, onde os alunos tenham compreensão dos diferentes papéis sociais
que o esporte assume, fazendo com que os alunos sejam preparados para assumir estes papéis e
entender os outros em papéis diferentes.
Com isso a pedagogia Crítico Emancipatória favorece
o processo de aprendizagem dos alunos, principalmente no
aspecto do diálogo entre professor/aluno e aluno/aluno, pois
esta concepção valoriza nas interlocuções,
ou seja, nas aulas, as competências: objetiva, social e comunicativa,
favorecendo uma maior autonomia dos alunos.
Na Competência
Objetiva os alunos precisam receber conhecimentos específicos do saber humano,
em especial da cultura do movimento, para agir com autonomia frente aos problemas emergenciais. (KUNZ, 2005). Para tanto, cabe ao professor criar
situações-problemas, onde os alunos sejam desafiados, a fim de, conhecer suas
possibilidades e desenvolver suas potencialidades, sem necessariamente fazer uso
de uma técnica especifica. A abordagem Crítico-Emancipatória sugere uma
educação emancipadora, ponderada para a cidadania e distante da mera
instrumentalização técnica para o trabalho. (KUNZ, 2010).
Na
Competência Social os alunos devem superar os problemas
e conflitos do contexto em que estão inseridos,
contribuindo para um agir solidário e cooperativo nas
relações entre colegas e professores. (KUNZ, 2005). A interação social acontece em toda
ação coletiva de ensinar e aprender, onde cabe ao educador trabalhar de forma
crítica, valorizando a coletividade, cooperação e participação dos alunos.
(KUNZ, 2010). No caso específico do
esporte, deve atuar no sentido de combater diferenças e discriminações, por
exemplo, futsal é para homens e voleibol é para mulheres, reflexo de nossa
histórica e presente sociedade machista, enfim, deverá contribuir para um agir
solidário e cooperativo.
Já na
Competência Comunicativa os alunos devem se comunicar e
entender os outros, por meio da reflexão crítica, através das linguagens
corporais. (KUNZ, 2005). Logo, a linguagem é
essencial para se constituir uma relação dialógica com os alunos, onde os
mesmos se sintam sujeitos participativos.
“É no próprio exercício da palavra que se
aprende a compreender”. (KUNZ, 2006, p. 41). Assim, a linguagem no esporte
não é apenas a linguagem que se expressa pelo se movimentar dos participantes,
mas o próprio falar sobre as experiências e os entendimentos do mundo dos
esportes. Enfim, através da comunicação
oportunizar ao aluno, a ler, interpretar e criticar o fenômeno sociocultural do
esporte.
Porém, analisando as interlocuções pautadas
na abordagem de Ensino Crítico-Emancipatória, possibilitará ao professor
identificar e empregar durante todo o processo as competências: objetiva,
social e comunicativa, nas quais não são desenvolvidas de forma fragmentada, ou seja, uma a
uma de cada vez, mas sim de forma espiralada, onde serão vividas durante todas as
interlocuções, ampliando novas ações, assim como a cultura de movimento, a
interação e as linguagens, transformando a cultura de movimento dos alunos.
REFERÊNCIAS
KUNZ, Elenor. Pedagogia
Crítico-Emancipatória. In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo
Evaldo. (Orgs). Dicionário critico de Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.
p. 316-318.
KUNZ, Elenor. Transformação
Didático- Pedagógico do Esporte. Ijuí: Editora da Unujuí, 2010.
KUNZ, Elenor. Transformação
didático-pedagógica do esporte. 7. ed. Ijuí: Unijuí, 2006.
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