segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A "CULTURA" DE ELENOR KUNZ



Jocimar Daolio em seu livro Educação Física e o Conceito de Cultura analisou também a abordagem chamada de crítico-emancipatória, estruturada pelo professor Elenor Kunz e explicitada em dois livros, o primeiro, de 1991, intitulado Educação física: ensino & mudanças, e o segundo, de 1994, Transformação didático-pedagógica do esporte.
Para definir movimento, Kunz apóia-se em Trebels, que afirma:
Movimento é, assim, uma ação em que um sujeito, pelo seu "se-movimentar", se introduz no Mundo de forma dinâmica e através desta ação percebe e realiza os sentidos/significados em e para o seu meio [apud Kunz, 1991, p. 163].

Na relação homem/mundo é construído o conjunto de significados que dão sentido às ações humanas, conjunto este que não se encontra nem no homem, nem no mundo, mas na inter-relação entre os dois.
Considerando o diálogo homem/mundo a partir da concepção dialógica, Kunz concebe a educação física como práxis social, com estreita relação no plano sócio-cultural e político, uma vez que deve partir do mundo de movimento vivido pelo aluno, composto por movimentos provindos das culturas tradicionais ou populares, ampliando-os e transformando seus significados. E dessa forma que o autor chega ao conceito de "cultura do movimento", definida como:
[...] todas estas atividades do movimento humano, tanto no esporte, como em atividades extra-esporte (ou no sentido amplo do esporte), e que pertencem ao mundo do "se-movimentar" humano, o que o Homem por este meio produz ou cria, de acordo com a sua conduta, seu comportamento, e mesmo, as resistências que se oferecem a estas condutas e ações [...] [Kunz, 1994, p. 62].

Daolio descreve que o professor Elenor Kunz faz crítica ao uso da expressão "cultura corporal", utilizada, como visto, pela abordagem crítico-superadora, pois toda atividade cultural humana se expressa pelo corpo. Falar em cultura corporal pressupõe, segundo Kunz, considerar que há outras formas de cultura como a intelectual, por exemplo, reforçando, dessa forma, a antiga dicotomia mente/corpo. Utilizando a concepção fenomenológica para a qual o ser humano como ser-no-mundo é sempre presença corporal, o autor afirma que pensar é tão cultural quanto correr. Sendo toda cultura manifestada corporalmente, sua preferência é pela expressão "cultura do movimento".
Daolio percebe na abordagem crítico-emancipatória um claro esforço em romper com essas divisões, que acabam por eliminar a possibilidade de tomar o ser humano e seus aspectos como integrantes de um todo indissociável. Considera importante a discussão feita por Kunz sobre o necessário equilíbrio entre as identidades pessoal e social, como elementos de um mesmo ser humano e de uma mesma ação. O ser humano que vive, percebe e sente, é o mesmo que também atua no mundo, interagindo com o meio e com os outros, podendo transformar seus sentidos e significados e transformar a sociedade.
Para o autor foi nas obras de Elenor Kunz, Valter Bracht e Mauro Betti que o ser humano foi considerado de forma mais ampla e mais dinâmica, assim como a própria visão de educação física foi ampliada.

REFERÊNCIAS
DAOLIO, Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados (Coleção polémicas do nosso tempo). 2004.
KUNZ, Elenor (199 I). Educação física: ensino & mudanças. Ijuí, Editora Unijuí.
__________ (1994). Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí, Editora Unijuí. 




2 comentários: