Jocimar Daolio em seu livro Educação Física e o Conceito de
Cultura analisou o livro Metodologia do ensino de educação física, de 1992, uma
das obras com maior repercussão na área nos anos de 1990 e que cunhou a
denominação "crítico-superadora" para essa abordagem. Foi escrito por
um Coletivo de Autores composto por Carmen Lúcia Soares, Celi Nelza Zúlke
Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Ortega Escobare
Valter Bracht.
Daolio vê na abordagem uma certa deficiência no trato da expressão
"cultura corporal", pois os autores falam dos jogos, esportes,
danças, exercícios ginásticos etc. como "[...] formas de representação do
mundo que o homem têm produzido no decorrer da história" (idem, p. 38).
Afirmam também que "[...] os temas da cultura corporal, tratados na
escola, expressam um sentido/significado onde se interpenetram, dialeticamente,
a intencionalidade/ objetivos do homem e as intenções/objetivos da
sociedade" (idem, p. 62).
Para o autor essas afirmações parecem
extremamente pertinentes para a discussão cultural num processo educativo,
porém, mostram-se insuficientes para garantir a plena valorização dos aspectos
simbólicos das condutas humanas, aspectos estes que muitas vezes se apresentam
inconscientes para os próprios atores sociais, além de serem diferentes de
grupo para grupo, de bairro para bairro, de cidade para cidade.
Daolio aponta que os autores apresentam uma determinada
proposta metodológica de educação física centrada nos interesses da classe
trabalhadora ou das camadas populares. Além disso levanta questionamentos: Mas
como definir os conteúdos do ponto de vista da classe trabalhadora? Quais seriam
esses conteúdos? Quem iria defini-los? Como saber se os conteúdos estão sendo
desenvolvidos dentro dos valores explicitados? Os alunos da classe dominante
teriam outra educação física? Os conteúdos que não são interessantes do ponto
de vista da classe trabalhadora seriam desconsiderados? Há uma cultura corporal
da classe trabalhadora e outra da classe dominante?
Para Daolio, parece simplista achar que todas as diferenças
entre os seres humanos acabariam após a transformação da sociedade rumo a um
mundo socialista. Da mesma forma que parece simplista considerar que as
diferenças ocorrem somente entre as classes sociais e não no interior de cada
classe social.
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