Jocimar Daolio em seu livro Educação Física e
o Conceito de Cultura analisou também o livro educação
física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista, que
constitui-se no principal veículo da abordagem desenvolvimentista, que tem no
professor Go Tani seu principal defensor no país. Esse livro foi publicado em
1988 por um coletivo de autores composto pelo próprio GoTani, Edison de Jesus
Manuel, Eduardo Kokubun e José Elias de Proença.
Go Tani e os desenvolvimentistas discutem a
educação física a partir de elementos do desenvolvimento motor, procurando
discutir as formas como o indivíduo aprende habilidades e tarefas motoras
necessárias à sua vida. Daolio nos mostrar que, apesar de não ser intenção dos
autores discutirem o conceito de "cultura", o termo aparece
esporadicamente no livro utilizado para a análise como dimensão conseqüente ao
aspecto biológico do homem, como se a cultura fosse produção do sistema nervoso
humano. O sentido de "cultura" na abordagem desenvolvimentista lembra
as proposições evolucionistas do século XIX, quando era tomado como algo
exterior ao ser humano, como um dado apenas material, produto de suas ações no
mundo e conseqüência de sua evolução biológica.
LIVRO DE JOCIMAR DAOLIO
Essa visão de cultura e de ser humano em Go
Tani está presa a um cientificismo na medida em que tenta "mapear" o
desenvolvimento motor objetivamente, até mesmo considerando as suas etapas para
a definição dos conteúdos escolares da educação física. O indivíduo, nessa
abordagem, é considerado possuidor de cultura e possuidor de uma dimensão
cognitiva e afetivo-social, mas é tomado, primeiramente, como indivíduo biológico,
naturalizado, localizado em estágios de um desenvolvimento motor, aliás, como
sugere a própria denominação da abordagem. O ser humano na abordagem
desenvolvimentista é tomado principalmente como um ser motor.
Para Daolio os conhecimentos sobre processos de
desenvolvimento, crescimento e aprendizagem motora são necessários ao professor
de educação física, mas vê como conhecimentos do professor, a fim de facilitar
certas aprendizagens por parte dos alunos durante as aulas. Como estudioso da
cultura, considerando a educação física como disciplina escolar e a escola como
espaço e tempo de desenvolver cultura, Daolio entende como tarefa precípua da
área garantir ao aluno a apreensão de conteúdos culturais, no caso,
relacionados à dimensão corporal: jogo, ginástica, esporte, dança, luta.
A forma como esses conteúdos serão desenvolvidos
necessitará, sem dúvida, de conhecimentos sobre desenvolvimento e aprendizagem
motora. Por exemplo, para o professor saber como uma determinada prática
esportiva poderá ser vivenciada por uma classe de quinta série, ele precisará
de conhecimentos sobre desenvolvimento motor e sobre processos de aprendizagem,
não para padronizar comportamentos ou estabelecer metas de ensino
a serem alcançadas por todos os alunos, nem para elaborar rígidos
planejamentos, mas para considerar processos de ensino diferenciados,
localizados no tempo e no espaço e influenciados pelas várias dinâmicas
culturais estabelecidas, atingindo, dessa forma, todos os alunos.
Enfim, para Daolio afirmar que a educação
física trata do movimento consiste em secundarizar a dimensão cultural em
relação ao cérebro humano, afirmando a base biológica como primordial para a
compreensão da área, como se a cultura fosse conseqüência, ou produção das
atividades cerebrais. Em contrapartida, afirmar que a educação física trata da
cultura de movimento faz com que se priorize a dinâmica sociocultural na
explicação das ações humanas.
REFERÊNCIAS
DAOLIO,
Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores
Associados (Coleção polémicas do nosso tempo). 2004.
DAOLIO, Jocimar
(1995). Da cultura do corpo. Campinas, Papirus.
TANI,
Go; Manuel, Edison de Jesus; Kokubun, Eduardo & Proença, José Elias de
(1988). Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem
desenvolvimentista. São Paulo, EPU/Edusp.
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