Jocimar Daolio em seu livro Educação Física e o Conceito de
Cultura analisou alguns trabalhos do professor Mauro Betti, que, em seus
primeiros textos e em seu clássico livro Educação
física e sociedade, de 1991, define sua perspectiva como sistêmica,
utilizando para isso um modelo sociológico. Nos textos mais recentes, Betti
parece não se interessar por definir uma abordagem, embora traga contribuições
importantes para a área. Daolio considera o professor Mauro Betti e o professor
Valter Bracht os dois principais estudiosos da educação física brasileira
atualmente.
Em 1992, Mauro Betti fez interessante discussão sobre as
chamadas educação do movimento e educação pelo movimento, a primeira
empreendida por Go Tani e a segunda, por João Batista Freire. Segundo Betti, a educação do movimento
garante a especificidade da educação física, mas esquece da personalidade do
indivíduo. A educação pelo movimento aproxima-se da ação sobre a personalidade,
integrando-se às outras áreas da educação, porém secundariza os objetivos
específicos da educação física. Betti recorre ao conceito de cultura física, a partir da literatura polonesa, em especial de M. Demel. Cultura física seria um conjunto
de valores relativos ao corpo, envolvendo a cultura física pessoal, a
comunidade cultural e correlates materiais dessa cultura. Segundo o autor polonês, a educação física deve orientar seus objetivos, não diretamente para o corpo, mas
indiretamente através da ação sobre a personalidade do indivíduo.
LIVRO DE JOCIMAR DAOLIO
Mauro Betti entende que a partir do conceito de cultura
física é possível para a educação física superar a antiga dicotomia entre a
educação do e pelo movimento, uma vez que o debate alcança as dimensões
axiológica e teleológica dos valores e das finalidades da educação física. A
partir daí, o autor define o objetivo da educação física da seguinte forma:
[...]
a Educação Física passa a ter a função pedagógica de integrar e introduzir o
aluno de 1º e 2° graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai
usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da
atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica...) [Betti, 1992, p.
285].
Betti percebe o impasse da área expresso pelas dicotomias
educação do/pelo movimento, ou mente/corpo, teoria/prática e busca auxílio no
conceito de cultura, em que pese à análise um tanto limitada desse conceito
realizada pelo autor naquela época. É
num texto de 1994 que o autor deixa de utilizar a expressão "cultura
física" e passa a utilizar "cultura corporal de movimento",
ou "cultura corporal", ao que parece, tentando ampliar o sentido da
expressão.
Betti, ao discutir os valores da educação física escolar,
afirma que eles se expressam em dois grandes princípios: (I) princípio da não-exclusão, que prega
que os conteúdos e métodos da educação física devem incluir a totalidade dos
alunos; e (2) princípio da diversidade,
que defende que os conteúdos do programa de educação física ofereçam variedade
de atividades, a fim de permitir ao aluno escolher criticamente, de forma
valorativa, seus motivos-fins em relação às atividades da cultura corporal de
movimento.
Betti afirma que o profissional de educação física deve
considerar o outro (aluno, cliente, atleta) numa relação de totalidade, não como
objeto, mas como sujeito humano, ouvindo-o, conhecendo-o, aceitando-o como ser
humano global. Segundo o autor, o papel da educação
física, quer na escola, no clube ou na academia, seria fazer a mediação
simbólica desse saber orgânico para a consciência, levando o sujeito à autonomia no usufruto da cultura corporal de
movimento. Segundo Betti, a educação física tem sonegado informação e
negado o prazer e a sociabilização aos seus alunos.
REFERÊNCIAS
BETTI, Mauro (199 I). Educação física e sociedade. São Paulo, Movimento.
DAOLIO,
Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores
Associados (Coleção polémicas do nosso tempo). 2004.
DAOLIO,
Jocimar (1995). Da cultura do corpo. Campinas, Papirus.
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